Mais tarde, continuava a quase não dormir. Levantava com os olhos vermelhos, ardendo por mais umas horas de sono. Mas, o dia lhe chamava. E ia, sem muito querer, ver o dia passar em passos lentos. Tinha um profundo desejo; ver o relógio picar as horas com pressa.
Um dia, em uma das madrugadas vividas, adormeceu os olhos e, antes que o galo cantasse, despertou n’um pulo, no meio da noite, arregalou a alma e, n’um berro do espírito, expirou. Clamou um grito de misericórdia; "Meu Deus, perdoa-me! Porque fiz, porque sou, porque quis." E fora, de súbito, um despertar, na madrugada, de alívio. Num desespero de vida, sem ser n’um tempo tardio, arrependeu-se dos seus pecados e sucumbiu; na relutância do corpo, entre o sono e seus sussurros, outra vez dormiu.
Pela manhã, arregalou-se sem saber se o que vivera havia sido real. Raiou sentindo como Deus; algumas coisas foram lançadas ao mar do esquecimento. Na madrugada, havia morrido pra morte e parido-se pra vida; nasceu. Soube que Deus descansava os olhos e lhe fizera sentir como Ele sentia. Exclamou: "nada me fizera voar por tantos milênios áté este dia. O perdão nos arrebata à outras galáxias, nos acopla à outra energia. Arrepender-me foi-me a maior das viagens. Deus me transportara em sua nave a um outro planeta. Esvaziou-me da poeira do espaço-pecado e encheu-me com seu amor intergalático, feito um raio que alumiou minha alma."
Por isso havia acordado desse jeito, inebriada. Todo pecado é perdoado se vem de corações arrependidos. E Deus, o autor do universo, de fato, lança fora os pecados ao mar do esquecimento. E de tão profundo, é como se nunca houvessem existido.
Ela exultou-se e salmodiou;
Deus do universo, a quem te compararei ?
És tão maior do que as galáxias e os seus mistérios semelhante ao dos buracos negros, mas infinitamente mais profundos.
Quem poderá te medir? Ninguém poderá. Pois, tua grandeza não cabe no universo inteiro.
A tua glória é infinda e a tua luz brilha mais do que todas as constelações em uníssodo brilhar.
Eu sou como o pó que com um sopro se dissipa e se finda. Os meus dias são como a sombra.
Sem Tí, óh Deus, eu mergulho em trevas, me engasgo no viver. Sou folha verde que seca antes do outono e morre.
Os meus caminhos são tortuoso e minhas veredas são errantes porque me esqueci de Tí, e contra Tí pequei.
Meus ossos envelhereram-se e juntamente a minha alma adoeceu.
Sem tí, sou povo obstinado, de coração impuro e de imundos pensamentos.
Mas o Teu espírito me constrangeu, me atraiu à gravidade de Tua órbita.
Tú, óh Deus, és o meu sol. E eu, sou planeta em devastação.
Mas, as tuas misericórdias se renovaram sobre mim e aqueceram o meu chão, fertilizaram o meu solo, potabilizou a minha água.
A tua graça é meu escudo e o teu amor é como o vácuo; me faz flutuar à merce de Tuas mãos.
O Teu perdão me faz um vento; pelo Teu sopro eu vou, eu vôo, vou ao sul de toda sorte onde o meu norte é o Teu querer.
A Tua Paz me embriagou. A Tua vida me fez livre.
Você me faz caminhar por caminhos de infindas boas descobertas.
O Teu ouvir; a minha prece - Decolo em oração.
O Teu amor; a minha paz - Repouso na estação.
Sua astronauta eu sou.
Isa.
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