terça-feira, 5 de junho de 2012

QUEM É VOCÊ NESSE CAMINHO ?


Picasso

“O reino dos céus é semelhante a um tesouro oculto no campo, o qual certo homem, tendo-o achado, escondeu. E, transbordante de alegria, vai, vende tudo o que tem e compra aquele campo. O reino dos céus é também semelhante a um que negocia e procura boas pérolas; e, tendo achado uma pérola de grande valor, vende tudo o que possui e a compra. O reino dos céus é ainda semelhante a uma rede que, lançada ao mar, recolhe peixes de toda espécie. E, quando já está cheia, os pescadores arrastam-na para a praia e, assentados, escolhem os bons para os cestos e os ruins deitam fora. Assim será na consumação do século: sairão os anjos, e separarão os maus dentre os justos, e os lançarão na fornalha acesa; ali haverá choro e ranger de dentes.” (Mateus 13: 44-50)

Muita gente aqui já conheceu Jesus pessoalmente, na vida; muita gente aqui ainda não. Há pessoas aqui que tiveram a experiência interior, existencial, de conhecer e ser conhecido por Jesus, de ter um vínculo com ele, de ter um casamento com ele, de ter uma conjugalidade indivorciável com ele, de ter dado um passo de fé eterno, nele, e de poder dizer: para quem iremos nós? pois só tu tens as palavras da vida eterna. Existem pessoas com esse tipo de vínculo, de consciência e de deliberação.


Da mesma forma existem aqueles que têm amigos, que têm cônjuges, que têm pais, que têm parentes, que têm afinidades culturais, ou intelectuais, ou afetivas com aquilo que se diz em nome de Jesus ou com pessoas vinculadas a essa profissão de fé, a esse caminho, a essa consciência. E por osmose, por simpatia, essas pessoas vieram, ficaram, foram ficando, foram se interessando, foram se sentindo parte do grupo; começaram a achar que isso era importante, sentem falta de não participarem, querem compreender um pouco mais, têm uma necessidade psicológica de não se distanciarem desse elemento semanal que, no mínimo, dá uma força para a mente, que não ensina tolices, que evoca do coração das pessoas o melhor que nelas haja. Mas não podem de fato dizer que foram marcadas a ferro e fogo por uma experiência única, inafastável, por uma experiência sem férias, por uma experiência sem estações de mais intensidades ou de menos intensidades, por uma experiência única – ao contrário, a maioria desses vive de ciclos, de estações.

E no caso desses que ainda não provaram em si mesmos e profundamente a realidade da conjugalidade inseparável com Jesus, faça chuva ou faça sol, o que acontece é que quando as coisas estão ruins, a tendência é que eles procurem mais, assim como procuram um analista, assim como procuram um amigo mais velho, assim como procurariam um sábio, um guru, assim como procurariam um médico, assim como procurariam um gerente de banco que lhes pudesse atender com um empréstimo.

E quando as coisas estão muito boas, em geral eles dizem: Bem, deve ser porque eu passo de vez em quando por ali, ou leio o evangelho, ou canto aquelas canções, ou sou amigo de um pessoal gente boa de Deus; isso deve gerar umas emanações, deve produzir algum influxo benéfico que está causando esse bem estar; sendo assim, deixa estar, não precisa haver tanta pressa: se o bicho pegar, se alguma coisa apertar, eu recorro mais, se não pegar, eu recorro menos. E, aí, eles vão vivendo sempre desses acontecimentos de epiderme, vivendo sempre de eventos, de momentos, de crises, de catarses.

Ou, às vezes, essas pessoas são subitamente surpreendidas por algo que considerem muito bom (como um dinheirão que não estavam esperando, ou a aprovação num concurso público no qual não acreditavam, ou por terem encontrado um homem – ou uma mulher – um pouco fora de hora e que é alguém acima da expectativa); aí, eles ficam muito gratos e dizem: Isso também deve ter sido coisa daquelas influências perto das quais eu ando, então, deixa eu ser grato. E, aí, aceleram certas frequências, aí, pegam um salmo de gratidão para ler todos os dias, aí, fazem uma novenazinha de orações felizes, aí, separam um dinheirinho para dar – eles fazem uma fezinha, eles praticam seu paganismo bondoso e virtuoso; mas não passa disso.

O fato, como eu disse, é que aqui nesta assembléia, como naquela de milhares que me assistem no Brasil e no mundo inteiro pela VVTV, tanto tem gente que conheceu a Deus realmente, como tem gente que vive desse outro jeito que eu falei. A maioria, infelizmente, vive desse outro jeito que eu falei, sem muitas raízes, praticamente sem consciência; com várias crenças sobre Deus e sobre Jesus, mas sem arraigamento de fé nele, sem estarem implantados nele, sem terem se casado com ele, sem terem tido um intercurso com ele, sem terem tido uma transa eterna com o amor de Deus, sem terem penetrado e sido penetrados por esse amor divino inseparável, por essa conjugalidade indivorciável. Infelizmente o fato é esse.

O texto de Mateus 13 que estamos vendo nos fala inicialmente daquele tipo de ser humano que encontrou Jesus sem estar buscando – o que acontece, mesmo; tem gente que encontra Jesus sem que estivesse buscando, conforme Jesus narra aqui. Porque o encontro com Jesus, ou com o reino de Deus chegando na nossa vida, tem peculiaridades como esta descrita por Jesus aqui no verso 44: “O reino dos céus é semelhante a um tesouro oculto no campo, o qual certo homem, tendo-o achado, escondeu. E, transbordante de alegria, vai, vende tudo o que tem e compra aquele campo”. Tem gente que encontrou Jesus porque tropeçou em Jesus.

Esses não tinham nenhuma busca, não estavam à procura de nada, não sentiam nenhuma angústia, não eram visitados por nenhuma santa perturbação divina, não carregavam nenhuma crise existencial, não tinham dentro de si nenhuma emulação psicológica variada, diversa da maioria das pessoas. Eles simplesmente eram pessoas de todo cotidiano igual. Mas, um dia, aconteceu de. Por uma revelação, por um sonho, por uma palavra que lhes alcançou e que tirou do entendimento deles um véu, por uma subiteza divina, por um susto, por um incidente no caminho, por um encontro com alguém, por uma palavra divina, que simplesmente chegou sem que neles houvesse nenhuma pergunta acerca de Deus, nem da vida, nem de qualquer coisa profunda, nem de nada. Mas naquele dia, naquela hora, daquele modo, daquela forma inesperada, não buscada, eles simplesmente tropeçaram no tesouro.

E tiveram a graça de perceber o que encontraram, tiveram o discernimento, o vislumbre, tiveram a revelação, tiveram a compreensão de que aquilo era inigualável, era incomparável, e que para se ter aquilo valeria a pena se desfazer de qualquer outra coisa, de qualquer outro bem, de qualquer outro valor, de qualquer outro significado, de qualquer outra importância. Por isso, Jesus diz que esses são aqueles que tendo achado o tesouro oculto no campo o guardam e saem transbordantes de alegria, dizendo: Meu Deus, foi como quem achou um bilhete de uma loteria premiada sem nem ter ido à casa lotérica jogar! Fiquei rico sem buscar!

E a disposição deles é tão grande, que eles se sentem capacitados a se desvencilharem de tudo, para comprarem o campo onde está o tesouro. Porque o tesouro é de graça, mas está escondido num campo que não pertence a esse indivíduo que apenas o atravessava. E porque o campo não é dele e o tesouro está oculto naquele campo, ele vende tudo o que tem para ficar, de graça, com o tesouro, que vale trilhões de vezes mais do que o campo pelo qual ele paga alguma coisa.

Esse tipo de encontro com Jesus acontece com algumas pessoas, que iam assim, andando distraídas e, subitamente, são acometidas pelo céu, são acidentadas por anjos, são atropeladas pelo amor de Deus. Não procuravam e acharam. Não estavam angustiadas, não estavam dizendo: Ó Deus, me visita; mas, simplesmente, foram objeto de uma sorte grande, de uma eleição soberana que as atingiu, que as alcançou de tal modo que, agora, diante de tal percepção, elas estão dispostas a tudo para nunca mais perderem o acesso àquele tesouro absolutamente indescritível.

O segundo tipo de pessoa encontra Jesus de uma outra maneira. Como diz o verso 45: “O reino dos céus é também semelhante a um (uma pessoa, um homem, uma mulher) que negocia e procura boas pérolas; e tendo achado uma pérola de grande valor, vende tudo que possui e a compra”.

No primeiro caso o indivíduo não está buscando nada e acha tudo. Neste segundo caso trata-se de alguém que tinha passado a vida buscando, tinha passado a vida abrindo buracos, a vida de minerador, com um alvião na mão, com britadeira espiritual e psicológica enfiando em rocha, subindo montanhas, descendo de rapel em grutas profundas, equipado, procurando, procurando, procurando – um caçador de esmeraldas. A vida toda procurando pérolas de valor, de significado. Em geral, são pessoas que fizeram muitas incursões filosóficas, pessoas que fizeram múltiplas incursões religiosas, pessoas que onde viram uma porta aberta com o anúncio de alguma possibilidade que se lhes apresentou como sendo significativa, lá entraram. São pessoas que vasculharam livros, são pessoas que ouviram indivíduos que elas julgaram serem sábios. São pessoas que procuraram atrás de cada ídolo, em cada panteão, em cada esconderijo espiritual, em cada culto, em cada possibilidade, e não acharam nada.
Até que um dia, porque buscavam – e a promessa é que todo aquele que busca encontra –, encontraram. E disseram: Ah, é mais do que tudo o que eu pedia, ou pensava, ou imaginava! Aqui está a pérola das pérolas, a pedra de grande valor! E a tendo encontrado, julgaram que valia a pena ir e vender tudo quanto possuíssem, a fim de ficarem com aquele tesouro, com aquela pedra. Significando dizer que essas pessoas abriram mão de tudo quanto fosse qualquer outra importância, significado ou valor; abriram mão de todas as pepitas anteriores, de tudo aquilo que tinham colecionado na vida, de todas as gotas de sabedoria, de tudo quanto no curso da existência elas foram juntando, pegando uma coisa aqui, uma coisa ali, outra coisa acolá. Desfizeram-se de tudo isso e disseram: Eu, agora, só tenho coração, só tenho olhos, só tenho visão, só tenho amor, só tenho interesse, só tenho satisfação nessa única pedra de grande valor.

E Jesus disse que o reino de Deus tem que ser assim. Quando se o encontra – e no primeiro caso a gente o encontrou sem querer, mas discerniu o que ele é – vende-se tudo o que se tem, para que se atribua a ele valor absoluto. Porque ele é de graça, mas está plantado num ambiente que não nos pertence, e nós queremos ter acesso a ele. No segundo caso nós buscávamos, e fomos nos enriquecendo com algumas das coisas que achamos, mas nenhuma delas satisfazia. Até que um dia encontramos essa pedra plena, esse tesouro absoluto, e, aí, pegamos tudo quanto antes era significado para nós, nos desfizemos de tudo para termos acesso exclusivo e não dividido a essa pedra suficiente, a esse significado absoluto, que é esse encontro com Jesus.

E há um terceiro grupo, descrito por Jesus no verso 47: “O reino dos céus (ou o reino de Deus) é ainda semelhante a uma rede (um tarrafão) que, lançada ao mar, recolhe peixes de toda espécie. E, quando já está cheia, os pescadores arrastam-na para a praia e, assentados, escolhem os bons para os cestos e os ruins deitam fora. Assim será na consumação do século: sairão os anjos e separarão os maus dentre os justos, e os lançarão na fornalha acesa; e ali haverá choro e ranger de dentes”.
Esse terceiro grupo não é feito de gente que tropeçou na graça, nem é feito de gente que buscava significados e, porque buscava, encontrou. Esse terceiro grupo é feito de gente que foi tarrafada, gente que foi apanhada na rede, gente que veio por esforços humanos, gente que foi caindo na malha dos cercos. É gente que casou com uma pessoa que cria e falou, falou, falou tanto, que um dia o outro resolveu prestar atenção, cedeu e creu. Como, também, são aqueles que encontraram pessoas que eram tão especiais e tão singulares, que eles, de algum modo, disseram: Bom, até por sabedoria eu vou ficar por aqui; e foram ficando por ali, foram sendo levados no fluxo, mas nunca tiveram suas naturezas alteradas – eles fazem parte apenas da pescaria, são apenas o resultado da tarrafa, apenas caíram na malha fina; e acabaram fazendo parte de encontros, de visibilidade da fé, onde tem peixe bom e tem peixe mau, onde tem Tambaqui e tem baiacu venenoso, onde tem sardinha e tem enguia, onde tem Namorado e tem serpente aquática da Austrália. Passaram e vieram na malha.
De modo que uns vieram por causa daquilo que dentro deles havia como uma natureza já predisposta ao bem, por uma graça que já os designara para aquele tipo de escolha que seria feita acerca deles. Porque eles já eram pessoas que carregavam em si aquela natureza salutar e comestível, e tendo sido agarrados pela graça divina, ficaram e se deixaram ficar. Porque fazem parte daquilo que Deus procurava, desses homens a quem Deus quer bem.

Outros foram objeto da mesma intervenção, e foram se deixando ficar, foram se deixando levar, foram se deixando arrastar; mas nunca tiveram qualquer mudança significativa nas suas naturezas. Eles frequentam ambientes, eles aprenderam lições, eles fazem parte de grupos, eles podem dizer literalmente, se quiserem ser honestos: em mim nada mudou, mas eu caí naquela rede e não consegui escapar dela, não dá para escapar. Mas não mudou nada, a natureza continua idêntica.
E é calamitoso, porque Jesus disse que chegará o dia da separação. E o dia não é este, o lugar não é este. Este aqui é o lugar onde o joio e o trigo crescem juntos, este aqui é o lugar onde a tarrafa passa. E eu sou, aqui, um lançador de tarrafa, eu estou aqui com o arrastão na mão. Faz quarenta anos que eu jogo a rede e depois puxo; e aí, você olha (sem permissão para fazer nada, porque o dia da separação não chegou) e já vai percebendo: Meu Deus, hoje eu só peguei baiacu, hoje só veio peixe-espinho, hoje só veio serpente aquática Australiana, hoje só chegou bodó da lama – enquanto tem lá uns peixes gostosos! Aí, o que você faz? Deixa tudo na tarrafa. Que é essa coisa chamada igreja, onde tem peixe bom e tem peixe mau. Que é esse campo onde tem joio e tem trigo.

E há pessoas que gostam de ficar presas na rede, no arrastão desse chamado. Sem verificarem que sem conversão das suas naturezas, nada fará com que o fato de terem caído na rede do Evangelho, por si só lhes traga algum benefício; nada fará com que o convívio com aquilo que eles chamem de exposição ao evangelho puro e simples de Jesus, por si só possa lhes trazer algum benefício. A menos que as suas naturezas sejam mudadas, convertidas e alteradas, vai chegar um dia em que esses todos serão tirados da rede e jogados. Porque não ficará nenhum deles nas águas desse mar eterno da pacificação do Evangelho.

Isso é o que Jesus nos diz, de maneira simples. Tem gente que não estava buscando e achou. Tem gente que estava buscando e achou. Tem gente que estava de bobeira e foi trazida. E entre esses últimos tem gente boa e tem gente nem tanto mas que vai ficando. Os que são gente boa vão crescendo na alegria de terem sido subitamente achados. Os que não são, se acostumam ao convívio e vão perseverando; tornam-se – agora deixando a metáfora e a parábola de lado, e vindo para o elemento factual e existencial – religiosos, tornam-se cheios de crença, tornam-se habituados, tornam-se acostumados, tornam-se, até, psicologicamente necessitados de ficarem presos por aquela rede histórica; mas sem que nada jamais lhes seja mudado ou alterado no coração. E Jesus diz que chegará a hora da separação.

Eu teria um quarto ponto a acrescentar, do qual vou falar em outra ocasião. Trata-se daquele indivíduo que cresceu sabendo de tudo, filho de todas as consciências, e que nunca encontrou de fato tudo aquilo que sabe. Esse é o mais difícil de todos.
Hoje eu queria que você se perguntasse quem é você, em relação a esses três elementos aqui descritos, a essas três parábolas, a essas três metáforas do encontro com Deus, com o reino de Deus, com Jesus. Quem é você?

Eu quero começar este ano com você olhando para si mesmo e perguntando se você é gente do reino dos céus, gente do reino de Deus, se você é um ser humano que pertence, de verdade, a Jesus. Ou se você é apenas um membro do esforço, do arrastão, e que, por razões diversas, disse: bom, a rede me pegou, então, deixa eu ficar.

Quem é você? Você é aquele que não procurava nada, até que um dia, andando por aí, foi visitado, numa noite, por um sonho – ou até por um pesadelo – que acordou você, que abriu seus olhos, que lhe trouxe uma revelação? Ou, quem sabe, você que não estava à procura de nada, encontrou na rua um amigo, um irmão, ou chegou a você um Novo Testamento, ou um livro, ou uma palavra; você que não procurava nada, nem sentia necessidade de coisa alguma, que aparentemente vivia acima de perguntas sobre o bem e o mal, sobre o sentido da vida, sobre o que vale e o que não vale, mas, de repente, por uma graça absolutamente divina, tropeçou nessa maravilha; e teve a iluminação espiritual suficiente para dizer: Meu Deus, isso aqui não é obra do acaso, que coisa extraordinária, que coisa incomparável, que coisa sublime! Eu farei tudo o que estiver ao meu alcance para nunca mais me afastar dessa posse, desse encontro, dessa possibilidade, dessa descoberta, dessa revelação. E estou disposto a abrir mão de tudo, para não sair daqui, para não permitir que isso deixe de ser meu. Eu não estava procurando nada e fui encontrado por tudo o que eu não procurava.

Ou, quem sabe, você é daqueles que bateram em todas as portas. Como aquele indivíduo que conversa comigo e diz: Olha, eu fui seicho-no-ie, eu fui ao vale do amanhecer, eu fui esotérico de seis matizes diferentes, eu fui do candomblé, eu passei pela umbanda, pela quimbanda, até na macumba eu dei uma entrada; eu fui ao kardecismo, fui ao catolicismo carismático, procurei nas igrejas evangélicas; eu li livros distintos, me interessei pelo budismo, pelo confucionismo, quis saber até o que dizia Zaratustra – eu quis saber de tudo. Eu procurei e procurei, eu enveredei pela psicologia e seus ramos diferentes; e também li filósofos gregos, li os medievais, li os renascentistas, li os do Século XX, li os pós-modernos. Eu procurei de tudo. E encontrei valores aqui, belezas acolá, sabedorias distintas. Até o dia em que cheguei à pérola de grande valor: eu fiquei cara a cara com Jesus. E o encontro foi tão extraordinário, que eu fui possuído de uma alegria indizível. E sabedor de que quem encontra aquele valor não pode carregar consigo os outros valores nem os outros significados – porque não há lugar para aderência de significados anteriores a esse valor sublime, supremo e absoluto que está em Cristo – eu me desfiz de tudo quanto antes achei que tinha encontrado e que eu colecionava, para não perder a pérola de grande valor que hoje diante de mim, e agora, dentro de mim, está.

Ou talvez você seja aquele indivíduo gente boa de Deus que encontrou Jesus, mesmo, mas que é filho de apelo, de pregação, de insistência, de chatice santa da sua mãezinha, que diz: Vamos lá, vamos lá ouvir o Caio; e você vem, como quem diz: Puxa, tomara que esse cara hoje não passe de quarenta minutos, hoje estou cansado, deixei pra trás o futebol, vou ter que ver o replay. Aí, um dia, a tarrafa pega em você. E aí, como você é gente boa, esse esforço trouxe você para o lugar certo, para a coisa certa, para a consciência certa, para o entendimento certo. E você é comestível, no banquete divino, você não é venenoso.

Mas pode ser que você seja aquele que veio porque a mulher disse: Se você não for lá comigo, não tem namoro; eu firmei um propósito no meu coração: marido para mim, só se for de Jesus. E aí você diz: É comigo mesmo, tô dentro. Ou, então, é aquele que foi convencido de que esse tipo de ambiente faz bem – faz bem para os filhos, faz bem para o casamento, faz bem para a cabeça; e se não faz bem, mal não faz. Então – você diz – vamos ficar por aqui mesmo, é importante que se tenha uma referência dessa; e já que eu fui tarrafado, deixa a vida me levar... E, aí, vai indo, na tarrafa de Deus: me pegaram, e eu vou. Mas nada mudou, não há transformação de mente nem de coisa alguma. E a mulher que disse “ou vai ou não tem namoro” é tão carente, que diz: bom, já que ele vai, eu prefiro ir com ele; acho que de fato nada mudou nele, mas pelo menos, ele vai, e isso é uma esperança, para mim, de que algum dia ele mude; além disso, eu também não quero deixá-lo, faz de conta que já aconteceu; ele até aceitou se batizar, ele nem fica zangado comigo quando eu boto dinheiro lá no gazofilácio, ele até me lembra da contribuição; então, deixa estar.

E esse indivíduo está crente que a tarrafa é que é a salvação, crente que o ambiente da congregação é que produz a salvação, a graça, a transformação. E vai se enganando a vida inteira, correndo o risco de que chegue aquele dia (e não é hoje nem aqui – aqui jamais será) em que a sua mulher seja colocada nas águas dos peixes bons, e ele seja atirado no mar escuro, como Jesus disse: Em verdade eu vos digo que dois estarão na mesma cama, naquele dia; um será tomado, e deixado o outro. Dois estarão no campo; um será tomado, e deixado o outro. Dois estarão trabalhando num moinho, ou numa fábrica; um será tomado, e deixado o outro.

Porque esse dia vem, em que ficará claro que a tarrafa, o convívio, a rede, a malha, a proximidade não significam nada. Pois ou nós nos encontramos com Deus, com Jesus, e temos a nossa natureza mudada, ou não existe absolutamente qualquer outra coisa que possa gerar alteração significativa para a eternidade, na nossa vida.

Olhe para dentro do seu coração e se pergunte quem é você nesse caminho, quem é você nessas metáforas, quem é você nessas parábolas, quem é você nessas descrições. E aproveite o dia, aproveite a hora, porque hoje é o dia sobremodo oportuno, hoje é o dia da salvação, é o dia da consciência.
E não há regras. Tem gente que não buscava nada e encontrou tudo, sem querer; mas uma vez encontrando, percebeu; e não desistiu, abriu mão de tudo, para entrar com tudo o que tinha naquilo que encontrou. Há outros que procuravam, procuravam, procuravam incansavelmente, sofregamente, ansiosamente; até que, quando encontraram, discerniram, e perceberam que aquilo era absoluto, que não era um valor para ser parte de uma coleção, não era apenas um bem superior enquanto se guardavam os demais, mas discerniram que era preciso se desfazer de tudo o mais, porque onde quer que aquele bem supremo chegasse, nenhum outro valor poderia mais ter lugar. E fizeram isso com toda alegria, sem nenhum sofrimento, porque encontraram a Jesus, a pérola das pérolas, o valor dos valores, o Evangelho, o caminho dos caminhos. E há aqueles que foram trazidos, tarrafados, puxados por circunstâncias, por laços de afeto, por vínculos, por meios humanos de procura, de persuasão. Desses, alguns foram persuadidos genuinamente pelo Evangelho, e aqui estão, e são peixes bons para o rio da vida. Mas outros apenas resolveram permanecer na ambiência, mas impermeáveis; resolveram permanecer na malha, mas sem conversão, sem alteração, sem mutação, sem consciência, apenas se deixando levar.

Pelo amor de Deus, não se deixe estar nem permanecer nessa condição de pescado não transformado, de tarrafado que não se transforma, de gente que foi puxada na rede mas que não se desenrolou da natureza perniciosa, que não se converteu, que frequenta, ou aparenta, ou simpatiza, ou vai junto, mas nada acontece dentro, jamais.

Por favor, examine o seu coração. Porque a palavra é de Jesus, não é minha. Foi ele que disse: Há aquele que não procurava e achou; vendeu tudo o que tinha e comprou aquele campo e ficou, de graça, com o tesouro. E há aquele que procurava e encontrou, e saiu cheio de alegria, se desfez de tudo e, com alegria, acolheu o que queria e mais do que pensou que podia encontrar. Há aquele que não procurava nada, que estava aí mas foi trazido, tarrafado pelo amor de Deus; mas se deixou transformar, transmudar, converter. E há aquele que mesmo puxado pela rede do amor de Deus não se converteu jamais, ficou na malha mas não mudou de natureza. Que este não seja o seu caso, para que você não seja jogado fora, no dia que chegará.



Caio Fábio

22/01/2012
Estação do Caminho - DF