quarta-feira, 19 de agosto de 2009

VeNdE-Se TrAnSFoRmA-aÇãO

Com o termino da 1° guerra mundial, a produção industrial americana aumentou, os produtos eram exportados para os países da Europa e a economia do país se aquecia. Porém, quando os países Europeus começaram a se recuperar dos estragos da guerra, a importação de produtos americanos diminuiu e os Estados Unidos sofreram com um desaquecimento industrial, que resultou na existência de muita mercadoria, mas poucos compradores. O resultado foi a conhecida crise de 1929, a Grande depressão, onde grande parcela da população sofreu com o desemprego e a fome.

Depois da 2° guerra mundial, as coisas pareciam seguir o mesmo rumo. O setor industrial começou a produzir mais do que nunca, de tal forma que, novamente, não haviam compradores que dessem conta de consumir os tantos produtos que se estocavam absurdamente nas fábricas. E foi aí que as coisas começaram a mudar no cenário mercadológico e, conseqüentemente, na sociedade, com as mudanças nas aplicações do Marketing.

Com as transformações advindas da revolução industrial, decorrente das mudanças tecnológicas, e das metamorfoses dentro do cenário mercadológico, incluindo a presente necessidade de vender os produtos que sobravam e esturricavam as prateleiras dos estoques, é que passou a existir, dentro do planejamento e estratégias de Marketing, o processo da troca de maneira mais fortalecida e com novas visões. Com um estoque grande de produtos, era necessário que se conseguisse vender para além dos consumidores que compravam por necessidade, mas, agora, com o desenvolvimento de métodos de persuasão, pretendia-se conseguir vender para quem não necessitava desses produtos. O que explica, em partes, o surgimento do que recebeu o nome de “indústria cultural”.

Foi na década de 20 que surgiu o termo "industria cultural". E foi proposto pelos filósofos e sociólogos Theodor Adorno (1903 - 1969) e Max Horkheimer (1895-1973), ambos alemães, para definir a cultura como produto de mercado, dentro do sistema capitalista. E, talvez, ou certamente, em resposta, mais tarde, iniciou-se na Europa o movimento que ficou conhecido como Pop-arte, que tinha a princípio como razão de existência a crítica, junto à ironia, a todo o esquema de consumismo dentro do sistema capitalista. E logo se ramificou aos Estados Unidos, agregando-se também como forma de expressão dos beatniks, na década de 50 e 60, que manifestavam, principalmente através da literatura, suas insatisfações com o modelo de sociedade materialista da época. Logo em seguida, ainda nos Estados Unidos, ao mesmo tempo em que a ditadura militar acontecia no Brasil e o movimento feminista ganhava forças em sua 2° fase, explodia a manifestação do movimento hippie, com uma filosofia que defendia a liberdade da vida (muito mais libertinagem), o sexo livre, a harmonia com a natureza, e que deixou como marca muito mais do que a máxima “paz e amor”. Na intenção de protestar, mas sem saber a dimensão que poderia ter e que conseqüências e transformações poderia causar, foi organizado um festival de musica, o maior festival de rock and roll dos últimos tempos, afim de reunir a moçada e explanar pra quem quisesse ver que a filosofia hippie tinha força e que eles não concordavam mesmo com os padrões morais, regras e afins da época. Surgia então, em 1969, a 40 anos atrás, no mesmo ano em que o homem colocou seus pés em solo lunar, o festival de Woodstock .

Woodstock foi, talvez, a expressão máxima do desgosto que aquelas pessoas tinham com o chamado “modelo de vida americano”, onde as pessoas consumiam sem parar, persuadidas pelos apelos publicitários e de propagandas, submetidas ao processo da troca. Porém, até mesmo os movimentos de contra-cultura estão fadados a se transformarem em produto cultural, como já se estudava a algum tempo. Sem imaginar, Woodstock e todas as suas “criações”, hoje, nada mais são do que meros produtos do mercado cultural. E mais, é curioso pensar sobre como o sistema capitalista, em prol da “cultura consumista”, consegue reduzir os grandes movimentos a simples produtos de consumo. Sim, pois, de Woodstock, o que resta hoje além da moda hippie, dos apetrechos de vestimenta e etc? (resumidamente)

É como se de tudo o que foi causado na época, a postura de protesto, a posição contrária, o inconformismo, ideologias e utopias, sonhos e anseios, só o que restasse como digno de lembrança fossem as influências que podem render algum tipo de giro de capital. Como se todo o resto não importasse, afinal, quem é que vai comprar ideologias e utopias inconformadas se é bem mais fácil e barato comprar as saias, camisetas, calças, colares e etc? É como se não quiséssemos nos envolver com as implicancias do movimento e tudo o que ele representou, que impactou e trouxe transformações na sociedade, mas gostássemos de nos vestirmos de hippies. Woodstock é muito mais que produto.

A gente faz parte de uma geração vendida, rendida ao consumismo, ao processo da troca, onde quem tem é que é, que faz o jogo, que representa. Mas, quem é por ter, não é e nem pode ser qualquer coisa além do que tem, posto que definir-se no ser por ter é como ser o nada e querer ser alguma coisa por ser dono do vazio. O que pode representar ter alguma coisa se nada se é além de um ser-nenhum que nada tem?
Em geral, quando tudo é produto, troca e consumo, tudo é existência vendida, todas as chances de transformação são jogadas pelo ralo, vendidas a baixo preço de satisfação pelo imediato sem sacrifício.

Woodstock é só um exemplo que comprova a nossa rendição. Não queremos ir de fato pra guerra, mas gostamos de nos vestir de soldados.

É só uma analogia. Bom mesmo seria se não desistíssemos das utopias, dos sonhos e ideologias surgidas pelo amor que dizemos ser o que é cura pra alma e pro mundo. Que lutássemos pelos nossos ideais que nos fazem ter uma existência mais relevante, inconformada e transformadora, mesmo que o mundo esteja vendido ao esquema de consumo e da futilidade.

Assim, como woodstock, não haverá sistemas ou capitalismo que nos condicionem e resumam à meros produtos de mercados.

Imagine só.



Um Beijão!
Isa.